terça-feira, 5 de abril de 2011

Série: Meu jogo eterno

Em jogo histórico, Dida defende dois pênaltis de Raí, e Corinthians ganha 1° jogo das semifinais do Brasileirão

O dia 28 de novembro de 1999,jamais sairá da memória do corintiano nem dos tricolores do Morumbi, aliás da história do futebol brasileiro, o dia em que "A MURALHA" defendeu dois pênaltis do ex-carrasco do Timão. Primeiro jogo das semifinais do Brasileirão. Corinthians e São Paulo, era uma das semifinais, que tinha uma série de melhor de três jogos, para o vencedor passar de fase. No campeonato, 22 equipes disputaram turno único, com todos se enfrentando e os oito melhores passavam para o mata-mata.
O Corinthians tinha terminado a primeira fase em primeiro lugar e o São Paulo em quinto. Nas quartas de final o alvinegro passou mas sem mostrar bom futebol contra o Guarani de Campinas e o Tricolor passara pelo outro time campineiro, a Ponte Preta em três jogos emocionantes. Com a passagem para as semifinais, o São Paulo tinha a chance de se vingar do Timão, já que no Paulistão daquele ano, vencido pelo time de Parque São Jorge, o São Paulo fora atropelado, também nas semifinais, perdendo o primeiro jogo por humilhantes 4X0 e empatando o segundo jogo. Por tudo isso os são paulinos queriam revanche e com o bom momento vivido começaram algumas leves provocações aos jogadores do Timão. Coisas de clássico, mas para os tricolores a vontade de bater o coringão era evidente, os jogadores do Corinthians que chegaram a fazer greve de silêncio, já que o rendimento do futuro Campeão do Mundo, no Primeiro Mundial organizado pela FIFA, estava sendo questionado, os jogadores ficaram calados e prometeram que em campo, a velha raça e vontade Corintiana estaria mais presente do que nunca, aquilo que a torcida do Corinthians exige de seu time, ganhar ou perder pouco importa, o que importa realmente é a garra, é honrar o manto mosqueteiro, atitude guerreira como é caracterizada sua torcida.
O jogo foi um um jogaço, digno de estar presente neste quadro, um jogo que seguirá pela eternidade do futebol e da memória corintiana. Domingo a tarde, Morumbi praticamente lotado, dividido, meio a meio como tem que ser Corinthians e São Paulo, nada dessa palhaçada atual de o mandante dar apenas cinco por cento da carga total de ingressos. Eu cresci vendo o "Morumba" lotado, com os alvinegros lotando as partes amarela e vermelha e os tricolores com a azul e a laranja, a que saudades daquele tempo, cada clássico de arrepiar a alma.
                                   Jogadores do Corinthians jogaram com raça e determinação

Bom voltando ao jogo o Corinthians começou melhor tomando a iniciativa e o São Paulo só esperando um erro do Timão. No Corinthians, o forte era o meio de campo, Vampeta, Rincón, Marcelinho e Ricardinho, davam uma aula de bom futebol e o ataque do coringão o matador Luizão e o endiabrado Edílson, o capetinha. Com o alvinegro pressionando, com Edílson pela direita e Ricardinho pela esquerda, o Tricolor se segurava. Depois de algumas chances criadas o Corinthians saiu na frente. Falta pela direita, Ricardinho levantou na área, a zaga do São Paulo se enrolou com o ataque do Timão e o zagueiro Nenê, mesmo caído no chão conseguiu empurrar a bola para o gol, 1x0, a fiel explodia pela primeira vez naquele dia. Com o resultado adverso, os mandantes saíram para tentar igualar o placar, Marcelinho Paraíba e França tentavam se movimentar no ataque, e o até então carrasco alvinegro Raí, era vigiado de perto por Rincón, um monstro em campo, que no esquema do treinador  Oswaldo de Oliveira, quando o Timão era atacado, o colombiano recuava como quase um terceiro zagueiro. Com Rincón dominando o lado direito do ataque tricolor, sobrava para Marcelinho a função de municiar França. E o coringão martelava em busca do 2° gol, em um passe errado de Marcelinho, "pé de anjo" no ataque alvinegro, a bola foi lançada rapidamente para o outro Marcelinho, o Paraíba que recebeu na ponta esquerda, levou para o meio e rolou para o Raí, "o terror do Morumbi", da meia lua o camisa 10 encheu o pé, uma bomba, um foguete no ângulo de Dida, um golaço e tudo igual no clássico.
Um minuto depois, o Marcelinho corintiano se redimiu, com privilegiada visão de jogo, o camisa 7 alvinegro, com um lindo lançamento, de uns trinta metros achou Ricardinho livre, a defesa do São Paulo deu imenso espaço pra o camisa 11, o motorzinho daquele time, o meia avançou, invadiu a área e bateu cruzado, Rogério Ceni ajoelhado, só espiou a bola estufando suas redes, e a fiel explodia pela segunda vez.
                                      Ricardinho comemora seu gol (foto: Google)
O São Paulo não desanimou e buscava o empate, o Corinthians se fechou a espera de um contra ataque, mas o tricolor era mais perigoso. E em cobrança de falta lateral, Edmílson subiu entre os zagueiros e empatou o jogaço, tudo igual e o 1° tempo eletrizante terminou em igualdade.
Veio o 2° tempo que jamais será esquecido pelo corintiano. O Tricolor começou pressionando, o o Timão só esperando o contra ataque, e ele veio e jogada ensaiada pelos corintianos na semana do clássico. Escanteio para o São Paulo, Dida aproveitando seu enorme tamanho saiu do gol na marca do pênalti, segurou o cruzamento efetuado por Paraíba, o goleirão ligou rapidamente Kléber na ponta esquerda ainda no campo de defesa, o lateral avançou,e na linha do meio de campo tocou para o Capetinha, no meio dos três zagueiros, Edílson ganhou na corrida de Paulão, invadiu a área e foi puxado, pênalti claro. Marcelinho com a habitual categoria mandou a bola forte, rasteira e baixa, Ceni pulou para o outro canto e nem saiu na foto, 3x2 e a fiel explodia pela terceira vez.
                                              Marcelinho estufa as redes de Ceni
Com o resultado, o Timão continou atacando, tentando aumentar a vantagem, o São Paulo chegava mas sem perigo, Raí era anulado por Rincón, eo Tricolor se segurava para não tomar uma goleada. O Corinthians desperdiçava muitas bolas no ataque e não conseguia marcar o quarto. E tudo isso em apenas 15 minutos de 2° tempo, ai o Tricolor foi para cima, o zagueiro Paulão quase empatou em uma boma defendida por Dida. Aos 16, ataque tricolor e o zagueiro Nenê corta um cruzamento com a mão, pênalti.O camisa 10 Tricolor, era Raí, acostumado a cobrar penalidades. Porém, do outro lado estava Dida, titular da Seleção Brasileira, especialista em defender pênaltis. Raí partiu e bateu forte, rasteiro no canto esquerdo, o arqueiro voou e defendeu, aí a Muralha deu sorte de a bola bater na sua coxa esquerda e sair dos pés de Edmílson que aguardava o rebote, Luizão foi mais rápido que o volante Tricolor e cortou para escanteio. A fiel vibrava pela quarta vez no Morumbi.

Dida pula e defende o 1° pênalti de Raí (Foto: Google)

Com isso o São Paulo dominava o jogo e o Timão buscava fechadinho uma brecha para o contra ataque. Mas o são Paulo sufocava, o Timão não aproveitava os raros contra ataques. Quando o jogo se encaminhava para o final, aos 47 da etapa final, o são Paulo achou um buraco na defesa do Timão e Carlos Miguel ia ficar cara a cara com Dida, Kléber derrubou o meia e Raí teve a chance de se redimir, com outro pênalti a favor do São Paulo. Raí com calma e tranquilidade, demonstrando personalidade se encaminhou para a marca da cal, ajeitou a bola, colocou a mão na cintura e olhou para o PAREDÃO a sua frente, o juiz autorizou Raí bateu forte, rasteiro, baixo, dessa vez do canto direito, mas aquela noite, Dida entrava para história do glorioso Sport Club Corinthians Paulista, fantástico e emocionante. O goleiro que chegara no meio do ano para assumir a camisa 1, do Timão, órfã de um goleiro que preenchesse o lugar do inesquecível Ronaldo, o mais maloqueiro e sofredor torcedor do Timão de todos os tempos que defendeu a meta corintiana.

 
Dida é abraçado pelos companheiros (Foto: Gazetapress)

Naquela noite, Dida marcou presença na vida dos torcedores fieis do coringão. Após a defesa, Dida foi para o rebote e Raí acidentalmente acertou a Muralha, provocando um corte em sua coxa direita e tirando-o do jogo. Todos ficaram preocupados, Mauricio entrou no lugar de Dida e ainda teve tempo de pegar uma bola inacreditável do meia Souza, ex-Corinthians. Isso já era 51 minutos do 2° tempo.

 
Dida eterno, pega o 2° penal e salva o Timão  (Foto: Google)

Mas aquele 28 de novembro, aquela partida terminaria daquela forma, 3x2 Corinthians, DIDA 2X1 Raí, FIEL 5X2 nos tricolores. No jogo seguinte, o Timão ratificou sua posição de carrasco Tricolor, e eliminou o São Paulo com outra vitória por 2x1.O fim daquele campeonato terminou com o título do Timão em cima do Galo Mineiro e um mês depois o Todo Poderoso dominava o Mundo com o Título Mundial em pleno Brasil, ao bater o Vasco, era o melhor time do Corinthians que esse jovem jornalista teve o prazer de acompanhar.

FICHA TÉCNICA
 
CORINTHIANS: Dida (Maurício), Índio, Márcio Costa, Nenê e Kléber; Rincón, Vampeta, Ricardinho (Edu) e Marcelinho; Edílson e Luizão (Dinei). Téc.: Oswaldo de Oliveira
SÃO PAULO: Rogério Ceni, Paulão, Nem (Carlos Miguel), Wilson e Jorginho; Edmílson, Fabiano (Jacques), Raí e Fábio Aurélio; Marcelinho Paraíba e França. Téc.: Paulo César Carpegiani

Local: Estádio do Morumbi - São Paulo (SP)
Data: 28/11/1999
Árbitro: Edílson Pereira de Carvalho
Público: 46.396
Renda: R$ 49.780,00
Gols: Nenê (22 - 1º), Raí (29- 1º), Ricardinho (31 - 1º), Edmílson (40 - 1º) e Marcelinho (8- 2º)



postado por Felipe Fernandes

3 comentários:

  1. Só uma dúvida: quantos passos a frente da linha o goleiro pode ficar antes da cobrança?
    E, se é para falar de Raí x SCCP, não nos esqueçamos de 1991, 1998...

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  2. Desculpa, meu amigo Éder mas sabes que não foi bem assim. Dida não é igual o goleiro do seu time, logo ele não anda três passos como Ceni nos penais. Não se esqueça de 90, Paulistão 99, já que é para falar de outros jogos.

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  3. A bem a verdade é que não foi bem assim o jogo mostrado no texto.

    Foi o São Paulo quem dominou toda a partida e o Corinthians foi quem ficou só nos contra-ataques;

    O Rincón teve que se desdobrar para marcar o Raí que se movimentava por todo o campo e era o melhor jogador do São Paulo;

    O Raí não cobrou bem os doís pênaltis, pois foram a meia altura e não chegaram a bater no canto da rede. Para um goleiro como o Dida, que esperava até o último momento para pular, foi, praticamente, entregue de bandeja.
    O próprio Raí admitiu que não tomou o cuidado de ter estudado o Dida antes, ao contrário do goleirão que deve ter visto o Raí marcar o seu gol de pênalti contra a Ponte-Preta, uma partida antes, exatamente como cobrou o primeiro pênalti contra o Dida.

    Apesar de ser são-paulino reconheço o jogaço que foi essa partida.

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