terça-feira, 12 de abril de 2011

Série “Meu jogo eterno”: Com Ceni, Grafite e muito drama, São Paulo vence Rosario Central.

Após a traumática perda da Libertadores 1994, contra o Velez Sarsfield, o São Paulo ficou 10 anos longe do torneio. Em 2004, a equipe pôde, enfim, retornar a principal competição do continente.
 Na 1ª fase, o Tricolor enfrentou Alianza Lima (Peru), Cobreloa (Chile) e LDU (Equador). A não ser na desastrosa viagem a Quito, que culminou com uma vergonhosa derrota por 3x0, o São Paulo passou pela fase de grupos com muita tranquilidade, vencendo todas as outras cinco partidas.
Nas oitavas de final, o São Paulo enfrentou seu primeiro grande desafio: um adversário argentino. O Rosario Central não foi muito bem na 1ª fase, enfrentando problemas para terminar em 2º lugar num grupo que também contava com o Coritiba, além dos peruanos do Sporting Cristal e os já decadentes paraguaios do Olimpia, nem sombra da equipe campeã dois anos antes.
O jogo de ida foi especial, pois o palco seria o mesmo Gigante de Arroyito, lugar onde o São Paulo jogou a primeira partida da final de 1992 e onde também iniciou a campanha do bicampeonato, em 1993. Porém, naquelas oportunidades, enfrentou o Newell’s Old Boys. Em 2004, o adversário seria o próprio dono do estádio. Assim como em 1992 e 1993, o São Paulo saiu de campo derrotado. Com um jogador a menos, devido à expulsão do volante Fábio Simplício, o Tricolor perdeu por 1x0, tendo, então, que fazer, no mínimo, dois gols de diferença no jogo de volta, no Morumbi.
Morumbi lotado: cena frequente na Libertadores'04
Quando a partida, enfim, chegou, a equipe foi recepcionada por um Morumbi lotado, com exatos 59 468 torcedores. Aliás, a torcida são-paulina foi caso a parte naquela Libertadores, com média superior a 50 mil por jogo. Isso que é saudade!
Para a partida, o técnico Cuca escalou o time no 4-4-2, mas, naquela mesma competição, mudou para o 3-5-2, que segue firme no São Paulo até hoje, sete  anos depois.
O Tricolor começou atacando, mas o mundo desabou quando, aos seis minutos, Marquinhos bobeou no meio de campo e perdeu a bola para Herrera – sim, aquele mesmo que depois se tornaria o “quase-gol” no Brasil. Daquela vez, o atacante não ficou no quase, ganhando na velocidade e batendo firme, sem chances para Rogério Ceni:  1x0 Rosario.
A partir dali, o São Paulo entrou em desespero. Luís Fabiano era um pilha de nervos, reclamando a todo instante. Chegou a levar um cartão, por colocar a mão de forma desnecessária no rosto de um adversário. Preocupante, se lembrarmos o excesso de expulsões do camisa 9 na temporada anterior.
Aos 23, Danilo sofreu falta fora da área, mas o árbitro, mal colocado, marcou pênalti. O Fabuloso bateu mal e o goleiro Gaona defendeu. Para piorar, no rebote, a bola parou novamente nas mãos do goleiro argentino.
Se o São Paulo já estava desesperado, depois do pênalti perdido desabou de vez. O time atacava de forma desorganizada, querendo fazer o gol de qualquer jeito. O Rosario Central, por sua vez, só fazia a tradicional catimba argentina, querendo deixar o tempo passar.
Fabuloso sofreu com marcação argentina
O desespero tricolor era tão grande que, com apenas meia hora de jogo, Cuca já tirou um volante para colocar outro atacante, trocando Alexandre por Grafite. Foi aí que a história começou a mudar. O São Paulo continuava, desorganizadamente, atacando. Até que, no último minuto, Cicinho cobrou falta da intermediária. Rodrigo escorou de cabeça para o meio da área e Grafite, também de cabeça, empatou o jogo: 1x1.
O gol serviu para descarregar o desespero e inflamar ainda mais a torcida. Tanto é que o time não desceu para o vestiário, permanecendo o intervalo inteiro dentro de campo, para não perder o clima do jogo.
No 2º tempo, o São Paulo continuou se jogando ao ataque. Boas chances eram criadas, mas isso deixava espaços para os argentinos, que eram perigosos nos contra-ataques. Até que, aos 31, Souza jogou na área, Luís Fabiano recebeu, fez o giro sobre a marcação e finalizou. O goleiro Gaona, que fora perfeito no 1º tempo, bateu roupa. Na sobra, Grafite dividiu com o zagueiro e conseguiu empurrar para o gol: 2x1 São Paulo.
O São Paulo continuou em cima e o próprio Grafite teve duas chances de marcar seu terceiro gol no jogo. Mas houve também um sustou, pois, no último lance da partida, o árbitro não marcou falta sobre Fabão. Herrera entrou na áera, tocou e o lance só não teve piores consequências porque Rodrigo cometeu pênalti que, para a sorte tricolor, também foi ignorado pela fraquíssima arbitragem do uruguaio Jorge Larrionda.
Final de jogo, 2x1 São Paulo. E a dramática noite no Morumbi  chegava ao seu ápice: a decisão por pênaltis.
O São Paulo começou batendo. Cicinho cobrou, e Gaona defendeu seu segundo pênalti na noite. Depois, Carbonari soltou uma bomba no meio do gol, e Rogério Ceni nem viu a bola. Na sequência, todo mundo acertou. O iluminado Grafite foi o primeiro a derrubar Gaona da marca da cal. Outro a marcar no tempo normal, Herrera também converteu sua cobrança. Depois disso, foi a vez de Luís Fabiano, com um peso do tamanho do Morumbi nas costas. Ele bateu mal novamente, mas, dessa vez, conseguiu converter. Talamonte bateu bem e manteve os argentinos em vantagem, 3x2. Daí, foi a vez de Fabão, que soltou uma bomba. Muitos temeram que a bola saísse do Morumbi, mas ela parou nas redes, mantendo o Tricolor vivo. Até porque Ferrari também converteu para o Rosario: 4x3.
Rogério Ceni pega a cobrança decisiva e classifica o São Paulo
Foi aí que um certo Mito fez a diferença. Rogério Ceni foi para a bola e bateu com perfeição, empatando em 4x4. Depois de garantir com os pés, foi a vez de usar as mãos. Por puro deboche (ou arrogância mesmo), o técnico argentino colocou o goleiro Gaona para executar a quinta cobrança, mesmo sem ele nunca ter sequer treinado pênalti. O resultado não poderia ser outro: Gaona cobrou de forma ridícula e Rogério Ceni, o goleiro-artilheiro, pegou fácil, sem dar nem rebote. Vieram, então, as cobranças alternadas. Gabriel cobrou com perfeição e colocou o São Paulo em vantagem pela primeira vez: 5x4. Coube, então, fazer história aquele que mais entende disso. Irace cobrou, e Rogério pegou de novo.
Fim de jogo. Em noite digna de matar um torcedor cardíaco, o São Paulo venceu o Rosario Central e se classificou para as quartas de final da Libertadores 2004. Na sequência, o Tricolor passou com duas goleadas contra o Deportivo Táchira, mas foi eliminado nas semifinais contra a zebra e Once Caldas, sofrendo um gol nos acréscimos do 2º tempo. Não foi a única vítima, já que os colombianos eliminaram o Santos e venceram a final, contra o Boca Juniors. Se não levou em 2004, lavou a alma em 2005, ganhando também o trimundial. Depois, veio o tricampeonato brasileiro, em 2006, 2007 e 2008. Já o tradicional Rosário Central, caiu muito, e hoje amarga a 2ª divisão argentina.

Ficha técnica:
São Paulo 2x1 Rosario Central
Estádio: Morumbi (São Paulo)
Público: 59.468 pagantes
Gols: Herrera (RC) 6’ e Grafite (SP) 46’/1ºT; Grafite (SP) 31’/2ºT

São Paulo: Rogério Ceni; Cicinho, Fabão, Rodrigo e Gustavo Nery; Alexandre (Grafite), Ramalho, Marquinhos (Gabriel) e Danilo; Vélber (Souza) e Luís Fabiano.
T: Cuca

Rosario Central: Gaona; Ferrari, Raldes, Talamonti e Papa; Messera (Moreira), Acuña, Gustavo Schelotto (Carbonari) e Irace; Belloso (Gonzalez) e Herrera.
T: Miguel Russo

Fotos: Arquivo pessoal

Postado por Éder Moura


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